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A CIVILIZAÇÃO DAS CIDADES

A CIVILIZAÇÃO DAS CIDADES

 

 A civilização das cidades, tem a ver com a sua vida própria que é o resultado do comportamento dos seus habitantes. Civilizar é educar, tendo em atenção os princípios e regras vigentes, de cuja correcta aplicação, conduz a uma boa harmonia social. Estuda-se a civilização de uma cidade ou dum País, baseando-nos no comportamento dos povos que o habitaram e ainda habitam, nomeadamente, na sua relação com a natureza. O homem brigou com a natureza, alterou o meio ambiente e adaptou-o ás suas necessidades. Talvez tenha feito mal. Mas foi necessário.

 Nos períodos Paleolítico e Neolítico certamente o homem construía seus abrigos, suas casas, mas ao que se sabe, eram mais aldeias nada de parecido com uma cidade. As primeiras cidades tal como as conhecemos hoje, surgiram no Oriente e podemos dizer que a primeira delas foi Uruk, por volta de 4500 e3750 a.C. na região chamada Mesopotâmia. Hoje essa cidade é Warka e fica no Iraque.

O que é uma cidade? Uma cidade é um local de trocas materiais, com localização mais favorável á distribuição dos produtos da terra, à produção e à distribuição dos produtos manufacturados e industriais e também ao consumo de bens e utilização de serviços, estes, muito variados.

A cidade é por excelência a sede do poder administrativo, representativo do sistema económico, social e político e é igualmente o local privilegiado da função educativa e de grande número de fontes de lazer, espectáculos e representações que implicam a presença de um público bastante numeroso. Conclui-se daqui que as trocas materiais citadas ligam-se às trocas espirituais e daqui resulta a civilização.

 A cidade é simultaneamente a expressão e o suporte da civilização. Uma cidade assume-se como tal a partir do momento que possui capacidade para conferir a cada indivíduo, seu habitante, o sentimento de pertencer a uma vasta comunidade que o ultrapassa e que, em  troca dos direitos que lhes outorga lhes impõe deveres.

A complexidade crescente da cidade moderna é outra das suas características. A divisão em bairros passou a ser insuficiente para dar uma ideia do organismo urbano, tanto mais que as populações diferem pelos seus problemas étnicos, sociais e económicos, o que não deve impedir-nos de ver o carácter global do fenómeno urbano. A cidade vai perdendo a sua preponderância como local de trocas materiais e intelectuais. Aquilo que conferia personalidade à cidade atenua-se, dilui-se. A cidade hoje apenas suscita ódios, exasperos e rancores, o que nos leva a supor que a época das cidades já passou.

A cidade pode mudar.

 

João Brito Sousa

 

 

Bibliografia consultada – O Urbanismo, a civilização das cidades do MEIC

UMA BOA AMIZADE

 

UMA BOA AMIZADE

 

 

É o que procuro diariamente

A isso dou todo melhor de mim

Quando consigo, fico contente

E vou vivendo a vida assim

 

Que melhor há do que ser amigo

Que melhor há do que ser sincero

Que melhor há que estar contigo

Não há nada melhor, então quero

 

Ser teu bom amigo, sim, exemplar

Amigo que aguente não odiar

Amigo com honra e bondade

 

Porque dos outros há aos milhares

Estão aí não tens de procurares

Eu, o que quero é  boa amizade

 

 

 

João Brito Sousa

SOU FRIA

SOU FRIA

Por João Brito Sousa

 

Manecas, ia em direcção à capital da sua província e conduzia o seu Ford Fiesta de 98, uma máquina a gasóleo de dois lugares, numa de observar a paisagem, quando o telemóvel toca. A conduzir a viatura, atrapalhou-se, ainda pegou no aparelho mas não conseguiu ver mais do que, nº privado. Parou na berma da estrada e tentou contactar a pessoa que lhe havia ligado momentos antes. Não chegou a digitalizar os nºs porque entretanto o tlm. voltou a tocar, desta vez com os nºs bem visíveis.

Aló, está, é o Manecas? Perguntou a voz do outro lado.

Sim, é ele, quem fala?

A Heloísa que o encontrou na praia na última vez.

Manecas não percebeu nada mas encaixou e continuou a conversar. Que sim senhor que podia estar na pastelaria Herculano em Oeiras, porque gostava de lhe falar, troçar umas ideias, falar da vida e Manecas confirmou tudo.

Ficou assim agendado um encontro para quinta feira.

Às quinze.

E o telemóvel calou-se.

Manecas pôs o carro em marcha e interrogou-se sobre o acontecido, levando muito para trás de si o pensamento e deu consigo a  recordar os bailes da aldeia, as moças casadoiras e as mães, que levavam as cadeiras para se sentar nos bailes desse tempo, as valsas que o Manecas tanto gostava de dançar com a filha do dono da lanchonete e entretanto, chegou à cidade, onde estacionou a viatura.

Mas quem era ela? Interrogou-se de novo e nada. Encolheu os ombros e nada descortinou. Vagueou pela cidade indiferente às coisas, encontrou um colega de escola, ia para lhe dizer o sucedido mas não disse nada e até quinta feira andou ligeiramente intranquilo

Antes de sair de casa, Manecas, telefonou a Heloísa, perguntando-lhe, Heloísa, como vais?

Estou de partida para a pastelaria Herculano, vais lá estar, claro, perguntou, sim, disse ele, lá estarei pela hora  combinada, pelas quinze ok e, se não souber pergunto, não te preocupes disse Manecas,

Manecas, ia sereno, como homem de bem que era, levava os assuntos da vida muito a sério, não admitia a si próprio atitudes de menor correcção, porque preferia antes de mais, estar de bem consigo próprio. Às vezes, fazia uma poema de amor e declamava-o sozinho, no seu escritório, porque tal como Sofhia de Melllo Bryner, entendia que os poemas eram para se dizer sempre. Desta vez, o poema começava assim, a ti a quem amei..

Manecas, estava nesta de cantarolar quando passou junto à pastelaria onde deveria ser o encontro mas a dita estava fechada. Ligou a Heloisa e comunicou-lhe o facto. Que não fazia mal, que havia outra mais abaixo e que o Manecas fosse para lá que ela estava a chegar.

E assim foi.

Acabados efectivamente de chegar, Heloísa e Manecas, à primeira vista entenderam-se bem, pareciam até actores consagrados numa atitude cavalheiresca aquela que se presenciou, havendo inclusivamente um beijo na face de cada um dado por cada um na face do outro e pareciam até já conhecidos de outros tempos, tal o entendimento às mil maravilhas e, num ápice, fizeram-se as apresentações.

Mas, uma coisa havia deixado Manecas um pouco perturbado. O beijo dado por ela na sua face pareceu pouco encorpado e bué de distante. Era a primeira vez, sim, mas que diabos, entre duas pessoas adultas que iam espontaneamente encontrar-se poderiam dar um pouco mais de si ao outro. Mas, acabaram por entrar no estabelecimento e sentaram-se. E foi Heloísa quem começou a conversa.

Abordaram o tema da crise económica em curso como tema de fundo, e apesar de nem um nem outro serem especialistas, lá iam dizendo e estando de acordo com o que diziam. Manecas para amenizar e tornar mais doce a conversa, mostrou-lhe o livro de poemas que havia publicado havia pouco tempo. Gostas de poesia, perguntou ele, sim, interesso-me, disse ela, então aqui tens, fui eu que escrevi, é para ti, para mim? disse ela perguntando e sorrindo, claro que é para ti disse Manecas, em cujo semblante perpassava entretanto um ligeiro esboço de felicidade.

Enquanto ela folheava e manuseava o livro com a timidez de adolescente, não emitindo, entretanto, qualquer opinião, ele observava-lhe, já reparaste nesses versos do Pessoa que coloquei aí à entrada, não, disse ela, repara no que ele diz, disse ele: amei, julguei que me amariam mas não me amaram, é lindo não é, insinuou ele.

Estiveram sempre em sintonia naquela tarde de Dezembro. A boa educação e o respeito pelos valores sociais foi praticado naquela sala e naquela tarde. Foi bonito.

Gostei muito de estar contigo, disse ela.

Uma tarde não é suficiente para dizermos tudo, disse ele.

Faltou dizer alguma coisa, perguntou ela.

Faltou talvez o mais importante de tudo, disse ele.

O quê, perguntou ela.

Olha uma coisa, como é o teu comportamento no campo do amor, dos afectos, da ternura, do carinho, da dádiva, da entrega, da satisfação de uma situação que pode proporcionar uma situação de bem estar e por aí fora …

E ela, sorriso amarelo, nervosa, encolhendo os ombros, lá ia dizendo… estou bem assim, sabes, já o meu antigo marido dizia…

O quê ? perguntou ele.

SOU FRIA

 

 

jbritosousa@sapo.pt

A FIDALGA

 

A FIDALGA

Por João Brito Sousa

 

 A Fidalga, nome que eu lhe atribuí nesta história de ficção, era uma senhora interessantíssima. No aspecto físico também. Mas não era por ai que eu me habituei a admirar a senhora Fidalga. Alem da estatura equilibrada que possuía, a Fidalga tinha uma educação enorme, que lhe possibilitava manter um equilíbrio emocional muito diferente, para melhor, se quisermos comparar com outras possíveis fidalgas. E era aqui que começava a diferença. Possuidora de uma personalidade muito vincada a que se juntava uma voz clara, audível e bem firme, mais o resultante da mistura de melodia, de um pouco de tristeza, também, mas levezinha e a expressão de um sorriso esboçado aí em 30 %, tudo isto lhe faziam da face, quase diria um desenho de Da Vinci. Se a isto tudo juntarmos uns olhos lindos e um cabelo até à cintura ainda mais bonito, a senhora Fidalga era uma criatura charmosa, em todos os aspectos. Talvez a Jenny que Júlio Diniz retractou em “Uma Familia Inglesa”, talvez a Ann de Miguel Sousa Tavares no seu “Equador”.

Conversámos muitas vezes e sempre agradavelmente. Os motivos eram os mais diversos, mas a senhora Fidalga tinha, melhor mantinha, uma postura inalterável. Um dia perguntei-lhe como reagiria se eu lhe dissesse que a amava. Se quer saber como reajo é só perguntar, disse ela. Você diz isso que tem a dizer e eu reajo, como disse e ficará a saber. Quando achar oportuno, pergunte ou diga, ok. Tudo isto era dito com a maior naturalidade e simplicidade.

A Fidalga era uma mulher elegante, bela e sensual o que não é sinónimo de ser uma pessoa vulgar. Uma coisa é ser vulgar, outra é ser sensual.Uma mulher sensual simplesmente ‘É’. Uma mulher pode ser sensual e atraente através do seu modo de andar, do seu perfume, do seu falar, do seu gesticular e para isso não precisa de falar alto, decotes, etc. Parece que hoje em dia, sensualidade tem sido confundida com vulgaridade, como diziamos ao confundir ‘liberdade’ com ‘libertinagem’.

     Era uma senhora que sabia ser extremamente importante estar informada e actualizada, para que pudesse conversar com qualquer pessoa, sobre qualquer assunto. Uma vez perguntei-lhe qual o seu livro de cabeceira naquele momento e disse-me que privilegiava jovens autores, aqueles que dissessem coisas interessantes, no sentido de aumentarmos os nossos conhecimentos. Neste momento estou a ler um jovem autor, há pouco iniciado nas lides da literatura, que publicou “COMO SE GOSTASSE” e estou a gostar muito. É um livro que tem uma história interessante e também fala da primeira República, o que torna a obra, quase diria empolgante. Outras obras ou outros autores, perguntei. Toda a boa literatura me interessa, ficção ou prosa. Recordo Vergílio Ferreira, que em “NOME DA TERRA”, no capítulo 1, primeira linha, diz:”Querida. Veio-me hoje uma vontade enorme de te amar. E então pensei; vou-te escrever. Mas não te quero amar no tempo em que te lembro. Quero-te amar antes, muito antes. È quando o que é grande acontece…”

        – É lindo, disse eu.

        – Também acho, disse a Fidalga

        Era uma verdadeira senhora.

 

       Jbritosousa@sapo.pt

Vida

 

O QUE ME FAZ VIVER É TÃO INTENSO, QUE ATÉ ME PERCO SE EXPLICAR…

ESCREVER

 

ESCREVER

Por João Brito Sousa

Escrever uma crónica para o jornal, escrever um livro, escrever de qualquer outra forma com a finalidade de publicar, é, num certo sentido, conversar com pessoas que nós não conhecemos, mas que talvez possamos vir a conhecer um dia. Ao escrevermos estamos a expor as nossas ideias e a emitir opiniões que podem ou não ser bem aceites por quem as lê. Mas isso é normal, porque o cronista ou o escritor gostam de ser lidos, e, sobretudo que os outros que nos lêem, se pronunciem sobre os assuntos que foram abordados. Porque escrever tem um conteúdo que se pretende divulgar. O cronista ou escritor quer dizer coisas, que, no seu íntimo se destinam a melhorar o comportamento dos outros. Duma maneira geral é esse o objectivo da escrita. Todavia, o cronista ou o escritor, não fazem do que escrevem uma lei. Num texto ou num livro não cabe tudo, fica sempre uma margem para o leitor navegar. È que, escrever, além da técnica própria que exige saber e dominar, exige também dedicação e empenho. A actividade de escrever, resulta, por assim dizer, numa vontade enorme de dialogar com os outros, conseguindo ver nas personagens que cria, esses tais outros que falo. Às vezes, chegam-nos algumas opiniões sobre aquilo que escrevemos e, se nos são favoráveis, provocam em nós grande alegria criando-se uma relação de afecto entre quem escreveu e quem leu. Para quem escreve, é importante ter do outro lado leitores exigentes, que coloquem questões, para que fiquemos com uma opinião mais concreta acerca da capacidade de nós próprios. O cronista ou o escritor deve conhecer os seus pontos fortes e fracos. E deve ser corajoso. Pessoalmente, escrevo para mim para poder chegar aos outros. E escrevo aquilo que penso. Mas devemos ensinar os leitores a ler os nossos trabalhos. Quem o diz é António Lobo Antunes, que aprecio sobretudo na crónica curta. Quando escrevo estou a pensar no leitor, porque está presente, nesse momento, a responsabilidade do que estou a dizer ou a escrever. Aprende-se a escrever? Sim, lendo os outros. Ler os outros para conseguirmos o nosso modelo Normalmente o escritor tem um modelo de escrita que é vantajoso para quem escreve e para quem lê. Porque há uma identificação na maneira de ser entre quem escreve e quem lê o autor. Daí resultarem os leitores fiéis que têm os seus autores preferidos. Eça de Queiroz encantou-me na juventude e hoje ainda gosto de o reler. Eça era detentor daquela ironia fina, que nos rebocava e nos conseguia levar, sempre entusiasmados, até ao fim do livro.

Escrever, em suma, é uma ocupação igual a outra qualquer que nos dê prazer, mas ao escrevermos podemos escolher o assunto e dar-lhe a tonalidade que acharmos mais adequada. È das mais antigas formas de comunicar. Da mesma maneira que sentimos aptência para pintarmos um quadro a sentimos para escrever. Muitas vezes não temos nada para dizer mas sentimos vontade de escrever. Porque queremos estar entregues a nós próprios, no nosso mundo. Porque a escrita tem o seu mundo próprio. Quem escreve nunca está só mesmo que estejam apenas ele e o teclado. Há sempre um dialogo, mesmo que pareça surdo, mas que está presente. Há pessoas que gostam desta solidão. São os escritores. Que também precisam das pessoas, para as ver, para as observar, para lhes dizer bom dia. É uma outra forma de estar. Às vezes incompreendida. Mas que vale a pena. Porque escrever é um aliado que temos ali à mão, que não discute nem briga. Isso pode vir depois. Mas naquele espaço de tempo que ocupamos a escrever o mundo foi cor de rosa. O que sabemos não ser.

A felicidade são momentos. E passamos por lá.

 

jbritosousa@sapo.pt

EU GOSTO DE OLHÃO

 

EU GOSTO DE OLHÃO

 

PELO TEU OLHAR

Por João Brito Sousa

Entramos em Olhão e a cidade recebe-nos com simpatia através do sorriso das pessoas. As cidades, no fundo, são as pessoas que nelas residem. E é das pessoas que vem o calor da cidade, esse calor que nos aquece o coração e que o encharca de recordações para toda a vida. Que foi o que aconteceu comigo e que me levou a dizer, “Eu Gosto de Olhão”, que é o título desta crónica.

Gosto de Olhão pela profundidade do olhar dos pescadores, um olhar simultaneamente duro e meigo, esse mesmo olhar com que afagam as redes e o peixe que acabaram de pescar, ou esse outro olhar crítico, em relação à vida que escolheram ou que para ela foram empurrados; a faina é dura. Mas em Olhão, tempos houve em que todos eram pescadores ou se não eram todos, os que não eram, tinham um parente mais ou menos próximo que era. Deixo-lhes os meus respeitosos cumprimentos.

A vida em Olhão parece-me suave e calma umas vezes, outras vezes acelerada, talvez como em todo o lado. Quando lá vou, normalmente aos fins de tarde, observo o movimento da cidade na sua voz única, melodiosa quanta baste, às vezes cumprimento um conhecido que passa e digo um boa tarde amigo, enquanto os pardais voltam, também eles, da faina. Olhão, a cidade que Sinatra poderia ter cantado no seu My Way.

As minhas recordações de Olhão vão desde os bailes no recinto de baskett de “Os Olhanenses”, onde o Toupeiro,  antigo jogador do SC Olhanense, cantava as suas melodias. E a rapaziada deslizava ao sabor das canções. Outras vezes era a Cidália Moreira, outras vezes a Isolina Granja. Outras vezes outros. As deliciosas noites de Olhão  que me deixaram saudade e que me ensinaram que se é jovem apenas uma vez. Nós, porque  a cidade não envelhece. As avenidas enchem-se de gente jovem  e até os velhos  do café “A Chaminé” me parecem jovens. E são.

Olhão, a cidade que me encanta, pela extensa avenida que vai desaguar na rua do Comércio, onde os olhanenses se  passeiam, orgulhosamente, pela própria rua do Comércio, com o seu olhar circunspecto e onde as velhas vão às leitarias tomar o pequeno almoço.

Olhão é outro junto do mar, onde fica a Av. 5 de Outubro, o mercado, que abastece a cidade, bons restaurantes de peixe assado por ali, muitos cafés com esplanadas, os casais que tomam o café da manhã antes das compras, a criançada que se agita, os pardais que partem em bandos para os campos e voltam ás sete da tarde.

A melhor amêijoa do mundo vende-se por ali (farto-me de dizer isto) e talvez diga nas minhas crónicas muitas coisas repetidas. Mas Olhão não se repete, não, a cidade apresenta todos os dias novos motivos de atracção, um novo visual, sempre muito asseada e limpa, sempre orgulhosa do seu passado. El-Rei D. Carlos passeava-se naqueles mares, no seu barco, de vez em quando e dava um bom dia aos pescadores.

A cidade de Olhão de Mestre Mendinho já só nas memórias dos de oitenta ou mais anos, ou então na imaginação do grande artesão da cidade, o meu amigo José Custódio ou o Zeca dos Barcos, que tem feito inúmeras exposições e tem levado a cidade de Olhão às costas para todo o lado. Deixo-lhe um abraço de grande amizade.

E, já agora, como Maurice Chevalier disse à Torre Eifel, “tu est má frere”, também eu direi de ti ó minha cidade. de Olhão: és minha irmã.

PELO TEU OHAR.

ESTÁ O MAR FEITO NUM CÃO (I)

 

ESTÁ O MAR FEITO NUM CÃO (I)

Por João Brito Sousa

É uma expressão tipicamente algarvia, inserida nos chamados falares regionais e é também o título de um tema musicado por um grupo da Fuzeta. O Algarve tem destas coisas, ou seja, tem estas expressões que só nós entendemos. Normalmente, estas expressões vêm do mar, trazidas, pelos pescadores. O falar algarvio foi objecto de estudo por entendidos na matéria, tendo-se concluído que é de grande importância, não só do ponto de vista estritamente linguístico, como também do ponto de vista sócio – cultural.

Falares regionais são as maneiras algo peculiares que os falantes de determinadas regiões dum país usam para comunicarem entre si, utilizando a língua nacional mas introduzindo-lhe com alguma regularidade certas palavras, expressões e modos de dizer ou de pronunciar exclusivos de cada uma dessas mesmas regiões ou, de algum modo, aí mais habituais que nas outras. São logicamente predominantes nas classes populares e mais intensamente nas zonas rurais.

Embora haja quem não diferencie entre falares regionais e dialectos, existe também quem entenda que os falares regionais têm, no seu conjunto, características próprias menos diferenciadoras em relação à língua padrão do que as dos chamados dialectos. Estarão, digamos, um grau abaixo deles, do ponto de vista de diferenciação em relação a essa base comum que é a língua padrão.

 No aspecto linguístico poderá revestir-se de muito interesse como apoio ao estudo de certos pormenores das línguas nacionais. Se o estudo comparativo destas contribui marcadamente para aprofundar o conhecimento da história das línguas em geral e dos vários ramos linguísticos, do mesmo modo a comparação dos fenómenos linguísticos verificados nas diferentes regiões dum país poderão prestar relevante contributo para o estudo da história da língua nacional respectiva.

Dado que se trata aqui especificamente do falar algarvio, pode desde já apresentar-se um exemplo duma contribuição deste tipo que o mesmo falar poderá prestar ao estudo histórico da língua portuguesa e que a seguir se expõe: Uma das particularidades morfológicas que ainda hoje se verifica no falar de alguns algarvios é a transformação do sufixo -inho em – ino, nos casos em que a consoante da sílaba antecedente, quando interna, é um n, o qual, para maior facilidade de pronúncia, provoca assimilação progressiva sobre o nh. Vejam-se alguns exemplos que se encontram ainda hoje, sobretudo nos meios rurais: canina (por caninha), danino (por daninho), donina (por doninha), finino (por fininho), panino (por paninho), penina (por peninha), tonina (por toninha).

Este conjunto de exemplos, ao que parece só verificados no Algarve, poderia explicar, por comparação, a evolução morfológica das palavras menino (de meninho) e pequenino (de pequeninho), a qual tem sido bastante controversa, sobretudo no que se refere à primeira.

Do ponto de vista sócio – cultural, o estudo dos falares regionais pode contribuir significativamente para a preservação da identidade cultural das sociedades que as praticam, evitando que se perca totalmente a memória de vivências fundamentais das populações e ajudando a conservar as heranças culturais recebidas. Os termos e modos de dizer que caracterizam cada um dos falares regionais devem por isso ser estimados e mesmo recuperados, tanto mais que o seu uso vai sendo cada vez mais raro. Eles contêm elementos de natureza linguística e etnológica de grande valor. São parte tão integrante e tão válida da cultura dos povos quanto qualquer outra componente dessa cultura. E, como fenómenos linguísticos naturais que são, merecem-nos também todo o respeito.

O MUNDO ESTÁ MAL

O MUNDO ESTÁ MAL

(As cartas trocadas entre os poetas Manuel Madeira e António Ramos Rosa)

Todos os dias de manhã leio pelo menos uma das tuas cartas
Daquelas que escreveste ao ROSA
Manuel
Lembras-te?
Naquela tua prosa que é poesia
Ou é poesia em prosa…
E que me deixa siderado… ou pregado
À tua obra
Que tem motivações de sobra
Para eu perceber que ser poeta é uma condição que está um pouco acima de mim
Mas eu não desisto
Porque eu digo e repito que já tenho visto
Alguns bem piores do que eu
A poesia será sempre a minha companhia
Inseparável
É ela que me ajuda a viver
E me trás a melodia
Da vida
É a poesia que me ensina… diariamente
Que todos nós somos gente
Manuel
Como eu sinto que tu tratas isso tão bem
a tua poesia
E… Manuel, tanto que eu queria
Voar como um milhafre
E descer a pique …. como eles fazem
E sentir ao cortar o vento
A harmonia do momento
É que toda a gente pode ter tudo
Mas se não tiver poesia
É como se não tivessem nada.

É por isso que eu retiro das cartas poéticas entre ti e o Rosa
A expressão calorosa
De dois homens que estiveram no mesmo lado da barricada
E que calcorrearam a mesma estrada

E ainda não chegaram ao fim..
Porque a luta é desigual
E talvez seja por isso

Que o mundo está mal.

João Brito Sousa

 

Obrigada mais uma vez João.

Sinto-me feliz por ter a sua presença neste meu espaço.

Esteja à vontade….

Um beijo.

Flor

POLITICAMENTE FALANDO…

POLITICAMENTE FALANDO…

Por João Brito Sousa

 Quando o Governo Português, depois do acontecimento 25 de Abril de 1974, entendeu, através dos seus mais ilustres e credenciados representantes políticos, que a adesão à CEE seria uma solução, estavam, penso eu, no uso pleno das suas faculdades mentais e o pensamento estava correcto.

Recordo, a propósito desta observação inicial, que, há cerca de cem anos, o filósofo espanhol Ortega y Gasset, a propósito da situação em Espanha, disse que a Espanha não tinha solução mas a Europa sim.

 Logo, seria lógico pensar-se seria útil a adesão à CEE.

Todavia, hoje a Europa está diferente, melhor, a Europa de 74 não existe mais a não ser na nossa memória. E outra coisa mais importante ainda é que, se Portugal é o problema a Europa, ou esta Europa de hoje, não nos parece ser a solução. O que se vê em Portugal nesse momento, parece-me, é o desenvolvimento do subdesenvolvimento, ao qual assistimos passivamente, sem uma atitude contra, sem dizer não, como se o País fosse um lugar distante, habitado por gente que conhecemos mal, por quem não temos especial estima e que julgamos ser merecedor do fardo que está aí para carregar.

Mas penso que outro Portugal é possível e penso igualmente que outra Europa é possível.

 Há uma ave trepadora na América Central que morre quando privada da liberdade. Portugal permitiu que entrassem na sua casa agentes estrangeiros e arrisca-se a perder a sua liberdade. Os portugueses, tal como os gregos e os espanhóis, viram na integração europeia uma oportunidade real para melhorar as suas condições de vida e garantir a estabilidade democrática. Mas esse projecto em que acreditaram imaginados pelos fundadores da EU já não existe. Foi abandonado no momento em que os princípios da solidariedade e da igualdade entre Estados, que constavam dos tratados, foram substituídos por lógicas monetárias e comerciais de governação definidas e postas em prática por países mais desenvolvidos, criando assim duas situações distintas, ou seja, a criação de Estados de primeira classe e Estados de segunda classe, ou, se quisermos, um centro europeu e uma periferia europeia. E isto não é correcto. Porque prejudica os Estados com menos potencialidades. O que não é justo.

 Qual foi a atitude dos políticos portugueses perante este descalabro a que se chegou?

Deixo a pergunta?

 

 

 

Obrigada João pelos teus “escritos”.

É minha honra publicá-los neste espaço.

O meu beijo e carinho de sempre.

Flor